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Lejeune Mirhen*
O Egito é um dos países árabes mais milenares, ao lado da Síria. É claro que é justo falar de uma época dos faraós e suas dinastias e outra do momento no século VII quando foi ocupada pelos muçulmanos do Império Árabe.
O marco fundamental do Egito ocorre com a revolução de 1952 que derruba o rei Farouk e instaura a República, foi uma iniciativa dos jovens oficiais livres, liderados pelo coronel Gamal Abdel Nasser. Um presidente interino foi colocado no poder, o general Mohammad Naguib, que durou até 1954. Dessa data em Dante, esse país, que diz fazer eleições regulares para presidente, teve apenas e tão somente três presidentes. O primeiro deles, Nasser, o maior e mais querido líder árabe da história, governou de 1954 até 1970 quando morreu. Anuar El Sadat assume e é assassinado em 1981 e de lá para cá, Hosni Mubarak, o ditador de plantão foi “eleito” e reeleito nada menos que seis vezes, muitas vezes com votações que atingiam quase cem por cento.
Sempre foi amigo dos Estados Unidos. Governou com a mão de ferro esses trinta anos e nem sequer teve a pretensão e nem precisou indicar um vice-presidente. Era vice de Sadat desde 1975, como chefe da Força Aérea. Após a assinatura dos acordos de paz com Israel em 1979, sob os auspícios da administração Carter após as conversações de Camp David em 1978, Mubarak vai ganhando destaque até que, com o assassinato de Sadat por extremistas islâmicos que o consideraram traidor, assume definitivamente a presidência.
O Egito sob o seu governo viveu trinta anos de corrupção e repressão do povo, dos sindicatos e dos partidos de esquerda e progressistas. Reprimiu, em nome de uma suposta laicidade, a organização Irmandade (ou Fraternidade, dependendo da tradução) Muçulmana, fundada por Hasan Al Banna, em 1928, sob a inspiração de Sayyid Qutb (falaremos dela posteriormente).
O Egito é o país do OM que mais recebe ajuda direta do tesouro americano, autorizado pelo Congresso dos Estados Unidos. Isso significa em torno de dois bilhões de dólares ao ano nos últimos trinta anos pelo menos. Israel recebe o dobro, ainda que tenha um décimo da população egípcia.
Não é a primeira vez que as massas egípcias vão ás ruas e mesmo com as atuais dimensões (a manifestação do último dia 1º de fevereiro, terça-feira, atingiu dois milhões de pessoas, apesar da imprensa ocidental e brasileira falar em “alguns milhares”...). O povo já havia protestado contra a ocupação turca e depois britânica nos idos dos últimos anos da década de 1910 no século passado.
No entanto, as características atuais são completamente distintas.
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Lejeune Mirhan Sociólogo, Professor, Escritor e Arabista. Membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa e da International Sociological Association e colunista da Revista Sociologia da Editora Escala.
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